tonydsilva@ibest.com.br / decioantoniosilva@bol.com.br

.

terça-feira, 3 de março de 2009

A humilhação continua, mas calouros parecem gostar




A cidade vê novas caras e ouve novos sotaques toda a vez que o ano letivo começa na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Nesta sexta-feira (2) não foi diferente. Na última edição do vestibular, cerca de 43% dos candidatos eram de outros municípios e muitos dos que foram aprovados e se matricularam marcaram presença no primeiro dia de aula. Só que nem todos conheceram as salas de aula. Quem passou próximo à instituição, no período da manhã e da tarde, viu que, para vários calouros, as lições foram dadas pelos veteranos, do lado de fora dos portões. Eram rostos novos e sotaques diferentes participando do tradicional trote universitário.Após às 9 horas, quando os termômetros apontavam incríveis 30ºC, o movimento era grande nos arredores da UEM. Os calouros eram facilmente identificados.Eles andavam descalços e as roupas pareciam retiradas há pouco tempo de mergulhos em baldes de farinha, ovos, terra e tintas – como se vê em peças publicitárias de sabão em pó.Os cabelos, quando existiam, tinham o mesmo destino. Os veteranos davam bebidas aos calouros e exigiam que eles pedissem dinheiro aos motoristas nos semáforos da Avenida Colombo. Alguns eram até vulgares, como um veterano de Engenharia Química que disse a uma caloura que se aproveitasse do decote da blusa para conseguir dinheiro. Apesar dos riscos que o consumo de bebida alcoólica e o movimento da Avenida Colombo oferecem, nenhuma ocorrência foi registrada no período da manhã ou do início da tarde. Os calouros entrevistados alegaram até que estavam gostando das brincadeiras e que, por meio delas, conheceram os colegas de classe e os veteranos. Um deles foi Hugo Kamiya, 18 anos, que veio de Campo Grande, no Mato Grosso. Aprovado em Arquitetura e Urbanismo, ele ganhou durante o trote o apelido que vai acompanhá-lo durante todo o curso: Picachu. “O trote está divertido”, disse, enquanto exibia as unhas das mãos e dos pés pintadas de esmalte.Apesar da aparente calmaria, a pró-reitora de ensino, Edinéia Regina Rossi, mostra-se preocupada com o que acontece, no início do ano letivo, fora do portões, onde a instituição não pode intervir. “Muitos trotes violentos começam como brincadeiras, mas, por conta do consumo de bebidas alcoólicas, os alunos acabam perdendo o controle, gerando conseqüências sérias.”Nestes casos, a universidade pode solicitar a intervenção policial. Para evitar problemas dentro do campus, há o Disque-Trote e quatro vigilantes por turno no monitoramento. Se algum veterano for pego praticando trote, a UEM abre um processo de sindicância e, dependendo da gravidade, há punições. Razão do coraçãoAs razões que trazem estudantes de outras cidades para Maringá se concentram na referência positiva que a UEM conquistou em nível nacional. Mas isso não se aplica a todos. A porto-alegrense Bianca de Carvalho Fischer, 22 anos, optou pela instituição para morar com o namorado. “Conheci ele pela internet”, contou. “No começo meus pais não gostaram muito da idéia, mas já estão se acostumando.” Ela foi aprovada no curso de Letras e desfilou com os outros calouros na famosa “fila do elefante”.Para ela, o trote tem de ser assim, descontraído, sem os atos de extrema violência vistos recentemente em outras regiões do País.
Fonte: O Diário do Norte do Paraná

Nenhum comentário: