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domingo, 27 de julho de 2008

Sítio arqueológico às margens do Rio Paranapanema guarda restos de povoado indígena


A pesquisadora Josilene Aparecida de Oliveira com peças de cerâmica encontradas no leito do rio; no destaque, detalhes das peças

Um sítio às margens do Rio Paranapanema, em Santo Inácio (a 100 quilômetros de Maringá), é palco de lendas entre os moradores mais antigos. Sons estranhos na noite, fantasmas e até ouro enterrado em ruínas. Andar pelo local dá crédito a algumas dessas lendas. Não pelos fantasmas, mas os tesouros. Relíquias inestimáveis encontradas facilmente, como restos de telhas ou de cerâmicas da Redução Jesuítica de Santo Inácio do Imbaú, que existiu no lugar até 1629 e foi destruída pelos bandeirantes.A pesquisadora do laboratório de arqueologia da UEM, Josilene Aparecida de Oliveira, identifica facilmente os artefatos. O número deles aumenta com a proximidade do rio e, ao chegar às margens, são facilmente identificados.
O local fica às margens da represa construída no Paranapanema e que cobriu boa parte do sítio arqueológico. Sempre que a represa é aberta, vários artefatos enterrados no rio chegam às margens. São fáceis de ser encontrados, mas que não podem ser retirados do lugar. Nem mesmo pela pesquisadora. "A última coisa que se deve fazer é retirar a peça do local, pois se perde muita informação. Qualquer pedra pode não ser uma pedra, mas um pedaço da história. Quando uma pessoa encontra qualquer material arqueológico, o primeiro passo é informar a universidade", explicou Josilene.
Riqueza
No caso de Santo Inácio, o sítio tem uma riqueza inestimável, não apenas pelos restos da redução jesuítica. Nesse local já foram encontradas também peças de caçadores coletores que habitaram a região há 6 mil anos; vestígios de tribos guaranis de 2.500 anos; de um aldeamento do século 19 e, é claro, as marcas todas da colonização moderna, iniciada em 1929. Josilene conta que o principal trabalho que está sendo realizado em Santo Inácio pela UEM, através de um convite da própria prefeitura, feito em 2005, é envolver a comunidade para preservar e divulgar a história do local. Atualmente, existe apenas uma placa na saída de Santo Inácio, que identifica a redução jesuítica. Segundo a secretária de Cultura e Turismo da cidade, Eliane Policarpo Barretos, existe um projeto de construir uma capela com a cruz jesuítica na cidade e um portal na estrada de terra que leva até o local. O projeto conjunto também prevê um mapeamento eletrônico da área para o levantamento de possíveis artefatos e onde os pesquisadores farão o delicado trabalho de escavação, de cercar a área com alambrado e de construção de um Centro Cultural.Repatriar
Atualmente, as duas entidades estão se estruturando para receber visitantes no sítio. Um centro de pesquisa com sala de exposição está pronto e deve estar em funcionamento em 2009. Um dos objetivos do centro é repatriar e estudar parte do acervo retirado do local por arqueólogos da Universidade Federal e do Museu Paranaense em pesquisas que começaram nos anos 50 e foram até os anos 90. Depois, o sítio foi completamente abandonado. Hoje, esse acervo está em depósitos na Federal e no Museu, mas, segundo Josilene, os contatos para esse repatriamento estão avançados. Parte do material descoberto, contudo, ficou em Santo Inácio graças a Benedito Alves de Almeida, um pioneiro da cidade que foi quem informou as duas instituições sobre o sítio arqueológico. O acervo de Almeida hoje está em uma sala da prefeitura e é composto por 190 peças de pedra, 833 fragmentos de cerâmica, nove vasilhas inteiras e 23 cachimbos de cerâmica. Algumas das peças mais antigas, como machados e outros utensílios de pedra, têm mais de 6 mil anos. O acervo também conta com diversos tipos de instrumentos, cerâmicas guaranis de diversos períodos (uma delas com a cruz símbolo dos jesuítas) e um grande jarro usado para armazenar cauim, a bebida fermentada, feita com frutas e raízes mastigadas por virgens guaranis, e usada em rituais.

Fonte: O Diário do norte do paraná

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