tonydsilva@ibest.com.br / decioantoniosilva@bol.com.br

.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Famílias abaladas pelo crime


Um assassinato ocasiona aos parentes da vítima muito mais que a dor da perda.


O quarto que os avós Luiz e Marlene prepararam para a neta Vanessa, 14 anos, tem uma cama de casal.


Eles esperam que Vanessa ainda divida a cama com a irmã Vivian, que desapareceu em março de 2005 quando a mãe delas, Maria Emília Cacciatore Florêncio, foi assassinada. A menina tinha 3 anos. O sumiço é o desdobramento mais triste da tragédia que abalou a família.
Esta e muitas outras histórias mostram que os efeitos de um crime vão muito além do ato em si. Um homicídio não termina na dor da perda. Uma agressão não é esquecida quando os sinais desaparecem da pele. A violência provoca um movimento em toda a família da vítima. Em 2002, Maria Emília – separada há cinco anos e com dois filhos – trabalhava em um supermercado, onde conheceu Edson do Prado, na época cabo da Polícia Militar. Ele era casado e se afastou de Maria Emília assim que soube que ela estava grávida. Eventualmente ele visitava a filha, mas nunca ajudou a criar a menina. Mais tarde, a mãe decidiu que era a hora de pedir uma pensão ao pai. Acuado, Edson do Prado marcou um encontro com Maria Emília e Vivian no dia 4 de março de 2005. As duas saíram de casa à tarde e não voltaram mais. Cinco dias depois, o corpo da mãe, na época com 38 anos, foi encontrado em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba. Ela foi morta com um tiro na nuca. Vivian nunca mais foi vista. Luiz e Marlene têm outros três filhos homens, todos casados. Os netos Evandro e Vanessa, hoje com 18 e 14 anos, escolheram viver com os avós depois da morte da mãe. A família bem estruturada foi abalada para sempre e hoje vive à espera da condenação do homem acusado do crime (o processo está aguardando julgamento) e da volta de Vivian. Marlene acredita que a neta está viva. No quarto que preparou para Vanessa e a irmã – além da cama de casal – ficaram muitas fotos, roupas e brinquedos da caçula. Uma almofada em forma de flor está pendurada na porta. Roupas que ainda serviriam para a menina, que este ano completa 8 anos, estão guardadas. Tudo o que os avós esperam é ouvir, novamente, a neta entrar correndo pelo portão, chamando por eles.
Misto de sentimentos:
A psicoterapeuta Paula Inez Cunha Gomide, do Laboratório de Estudos Forenses da Faculdade Evangélica, diz que a perda de um familiar em decorrência de um ato violento provoca sentimentos de revolta, de injustiça e até de culpa. “Pais que perdem filhos, por exemplo, se culpam por não terem protegido mais.” No Brasil, completa a doutora em Psicologia, as vítimas e seus familiares se deparam, ainda, com a incapacidade da Justiça de cumprir seu papel: o sistema criminal é lento e as cadeias não recuperam. E o que fazer? Paula sugere o apoio da rede familiar, do sistema de saúde e da espiritualidade. A psicóloga Maria da Graça Padilha, também do Laboratório de Estudos Forenses, lembra que nesses processos de violência a vítima (ou seus familiares) passa a ser quem se esconde: sofre ameaças, sente medo. Maria da Graça explica que o mais comum que pode acontecer com a vítima ou com quem presencia um crime – mesmo sem ter relação com a vítima – é o que os profissionais definem como estresse pós-traumático. A pessoa lembra o tempo todo do que aconteceu, não dorme, não come.

Fontes: J.G.O.L. e Agências

Nenhum comentário: